Em 1916, o transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias, com 578 pessoas a bordo, chegou ao litoral de São Paulo. O navio, carregado de metais, vinhos, estátuas de bronze e 40 mil libras esterlinas, fazia a rota Barcelona-Buenos Aires.
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Na madrugada de 6 de março, o mau tempo com forte nevoeiro, tempestade e ondas de aproximadamente seis metros fez com que a tripulação não avistasse um rochedo na Ilha de São Sebastião (Ilhabela). Após o choque, foram poucos minutos até as caldeiras explodirem e o transatlântico afundar rapidamente, matando 477 pessoas.
O naufrágio do Príncipe de Astúrias é considerado pela Marinha brasileira o maior registrado em águas brasileiras desde 1500. Noventa anos depois de ele afundar, centenas de pessoas continuam mergulhando para conhecer a embarcação. E não são poucas as lendas sobre a tragédia do chamado Titanic brasileiro: há quem garanta que o número de mortos passa de mil, já que além dos passageiros cadastrados, centenas de clandestinos viajavam nos porões ilegalmente.
Atualmente, 1.506 naufrágios estão catalogados no Serviço de Documentação da Marinha (SDM). Os acidentes ocorreram no mar, em rios e lagoas do Brasil entre os anos de 1500 e 1950. Para pesquisadores, no entanto, esse número pode ser muito maior. O biólogo Maurício Carvalho, que desde 1980 pratica mergulho e é idealizador do Sistema de Informações de Naufrágio (Sinau), tem em seu banco de dados aproximadamente 2 mil naufrágios apenas no litoral. Clique aqui para ver alguns dos navios naufragados na costa.
Pelos dados do Sinau, usado como referência até por marinheiros, o estado com maior número de naufrágios é o Rio Grande do Sul, com 286 registros. Em seguida vêm Rio de Janeiro (274) e Bahia (207). Os dados podem ser consultados no site desenvolvido por Carvalho, o Naufrágios do Brasil (www.naufragiosdobrasil.com.br).
Oficialmente, no entanto, o estado que registra o maior número de acidentes com embarcações é a Bahia, atribuído ao fato de Salvador ser a cidade portuária mais antiga do Brasil. O mergulhador técnico Clécio Mayrink, criador do site Brasil Mergulho (www.brasilmergulho.com.br), que reúne dados sobre naufrágios, técnicas de mergulho e os locais para praticar o esporte, explica que as metodologias aplicadas são diferentes ele, por exemplo, contabiliza aproximadamente 1.800 embarcações afundadas. O SDM usa dados documentais e que foram comprovados pelo Tribunal Marítimo, enquanto os mergulhadores, além da bibliografia, também vão aos locais. Os acidentes mais recentes são catalogados pela Diretoria de Portos e Costas da Marinha.
Mayrink conta, por exemplo, que uma expedição de seu grupo localizou, no Rio, o CT Paraíba, que naufragou em 2005. Atualmente, sua equipe está à procura de mais duas embarcações, mas, para garantir que será o primeiro a chegar ao local, ele faz segredo dos locais. "Ninguém imagina onde eles estão", afirma o mergulhador.
Primeiro acidente
O mais antigo naufrágio do Brasil ocorreu em 1503, de acordo com Serviço de Documentação da Marinha. A embarcação fazia parte de uma esquadra de seis naus que vinha de Portugal e afundou em Fernando de Noronha. Acredita-se que o pouco conhecimento da costa brasileira tenha motivado o acidente.
Fonte: Globo.com