No que depender do primeiro-ministro do Iraque, Nouri Malik, tudo estará acabado antes do fim do ano. Saddam Hussein, o ex-ditador, o homem mais temido do país, o líder de um dos regimes mais violentos e belicosos do Oriente Médio, estará morto. A sentença foi dada no domingo 5 por causa de apenas um dos crimes pelos quais Saddam está sendo julgado: a morte de 148 xiitas da cidade de Djubail. Saddam pediu para ser morto por um esquadrão de fuzilamento, como numa execução militar. A lei iraquiana, no entanto, diz que a morte deverá ser por enforcamento. Como no caso de um criminoso comum.
O Julgamento de Saddam Hussein
» Veja a Galeria de fotos
No momento em que ouviu sua sentença, Saddam parecia o mesmo homem de sempre. Desafiou a corte, esbravejou, pôs em dúvida a legitimidade do julgamento. Na terça-feira 7, o ex-ditador estava de volta ao tribunal para responder por outro crime: uma operação militar contra rebeldes curdos que matou milhares de civis por armas convencionais e químicas. Saddam parecia um homem vencido. Cabisbaixo, respeitoso, quieto, o ex-ditador falou pouco e com educação. Num desses momentos, lançou um apelo aos "iraquianos, árabes e curdos, que perdoem, se reconciliem e apertem as mãos uns dos outros".
É um objetivo nobre. E a condenação e a eventual execução de Saddam não parecem contribuir em nada para ele. Logo que a notícia da condenação chegou às ruas de Bagdá e das outras cidades iraquianas, árabes xiitas e curdos, as populações mais perseguidas pelo regime de Saddam Hussein, saíram às ruas para celebrar. Os árabes sunitas, companheiros de Saddam na seita muçulmana que é minoritária no país, protestaram contra a sentença. Nas ruas, carregavam cartazes com os dizeres "Enforquem Bush, não Saddam".
Para os xiitas, a morte de Saddam aparece como a esperada reparação pela brutalidade de mais de 20 anos de ditadura. O próprio massacre de Djubail mostra bem o que a maioria xiita sofreu sob o regime de Saddam. As execuções sumárias foram uma retaliação a uma tentativa de assassinato de Saddam por um homem da aldeia. Para os sunitas, que dominaram o país desde sua independência, nos anos 1920, até a derrubada de Saddam pelas tropas americanas, em 2003, a condenação e a eventual execução só aumentam a carga de humilhação que a Guerra do Iraque representou para eles.
A divisão do país, que a intervenção americana arrancou do equilíbrio – precário e mantido com muita violência – em que estava, só parece se agravar com a decisão judicial. Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos pedem a anulação da pena de Saddam. Citam irregularidades no processo ou a oposição por princípio à pena de morte.
Mesmo sem querer pôr em questão a legitimidade da lei ou da corte iraquiana, vários governos europeus pediram ao governo do Iraque clemência para Saddam. Seria um passo na direção de uma reconciliação nacional. Apontam para exemplos como os da Polônia ou da África do Sul, que, depois de décadas de regimes brutais para pelo menos uma parte da população, buscaram o perdão e a reconciliação em vez de encontrar e punir culpados. A eventual execução de Saddam corre o risco de ser só mais uma morte inútil no Iraque.
Fonte: Globo.com