A modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, morreu nesta terça-feira, em São Paulo, em conseqüência de uma anorexia. Ana Carolina tinha 1,72m e pesava apenas 40 quilos. Ela estava internada desde outubro. Uma infecção urinária se transformou em um quadro de insuficiência renal e, em seguida, evoluiu para um quadro infecção generalizada. Carolina foi enterrada ontem mesmo em Pirapora do Bom Jesus, a 54 km da capital, no jazigo da família.
Ana Carolina pertencia ao elenco da agência LEquipe. Mirthes Reston, tia de Ana Carolina, afirma que ela começou a carreira de modelo aos 13 anos e trabalhou em agências como Ford e Elite. No site da agência estão ainda fotos e informações sobre a modelo: atuação comercial/fashion; altura 1,72 m; cabelos castanhos; olhos verdes; manequim 36; busto 87 cm; cintura 60 cm; quadril 83 cm; sapato 37. (Veja fotos da modelo)
– Ela sempre foi magrinha, mas neste meio magro é gordo. Ela comia pouquíssimo, só sujava o prato. Só uma vez a cada três quatro meses ela comia o prato que mais gostava, que era feijoada – diz Mirthes.
A tia afirma que a família começou a se preocupar com a magreza excessiva de Ana Carolina há dois anos, quando ela retornou de uma temporada na China. Mirthes afirma, no entanto, que só com depois do internamento foi percebido que ela sofria de anorexia e bulimia.
– Ela morava em São Paulo com uma amiga. Quando passava mal e vomitava, ela abria o chuveiro para que ninguém ouvisse. Só depois percebemos isso – conta a tia.
Nascida em Jundiaí, a 100 km da capital paulista, Ana Carolina começou a piorar no fim de outubro, quando passou a sentir fortes dores no rim. Internada no Hospital do Servidor Público Municipal, em São Paulo, no dia 24 de outubro, ela pediu para a mãe que comprasse uma coxinha e um sorvete de limão no dia em que foi internada.
– Depois, ela tomou apenas o chá e a torrada servidos pelo hospital e disse para a mãe que iria dormir, pois não estava agüentando nem respirar. Logo depois, a pressão caiu para 3 por 5 e ela teve de ser levada para a UTI.
Mirthes afirma que, além da bactéria que causou a infecção inicial, os médicos constataram também a presença de um fungo, que atingiu o pulmão.
– Ela não tinha resistência. Os médicos fizeram de tudo, foram muito carinhosos e cuidaram muito bem dela. Mas não tinha jeito. A anorexia à levou à morte. Ela estava fraca e debilitada, nada fez efeito para combater a bactéria – diz a tia.
Mirthes diz que representantes da LEquipe tinham percebido que Ana Carolina estava muito magra e teriam sugerido que ela fosse a um psicólogo. A família, no entanto, diz que não sabe o nome do médico e nem tem conhecimento se ela chegou a ir a alguma consulta.
A tia conta que Ana Carolina era muito carinhosa com a família e sempre trazia presentinhos para todos das viagens que fazia. Além disso, ajudou a família com os cachês que recebia quando modelo.
– Ela trabalhou muito para ajudar a família. Era uma menina muito boa, que adorava festa e carnaval. Estudou até o Segundo Grau, mas queria fazer veterinária ou engenharia civil mais tarde.
Segundo Mirthes, a família do namorado de Ana Carolina sugeriu transferi-la para um hospital particular, mas ela não poderia deixar a UTI. Ela contou que representantes da LEquipe visitaram a modelo no hospital, mas que a agência não assumiu despesas médicas.
– Várias meninas foram visitá-la. A perna delas é da grossura de um braço de uma pessoa normal, que não é gorda.
Mirthes chora e conta que não deixou a mãe ver o corpo de Ana Carolina antes que ela fosse maquiada. A garota, que sempre foi magra, teve de ser vestida com uma calça tamanho 48 depois de morta, pois seu corpo inchou.
– Gostaria que a morte dela servisse como alerta para as meninas – diz a tia.
Procurado por telefone pelo O GLOBO ONLINE, Alexandre Torchia, diretor internacional da agência, disse que não iria se pronunciar sobre a morte de Ana Carolina a pedido da família.
Em setembro passado, modelos excessivamente magras foram proibidas de participar num desfile de alta-costura em Madri, na Espanha, abrindo uma polêmica sobre as imagens esqueléticas das meninas nas passarelas da moda. A decisão de rejeitar modelos abaixo do peso foi tomada por conta da busca de meninas e mulheres jovens de tentar copiar a aparência das modelos e desenvolver transtornos alimentares, como a anorexia.
Representantes de agências de modelos, como a Elite de Nova York, protestaram e disseram que a indústria da moda estava sendo usada como bode expiatório de doenças como a anorexia e a bulimia. "Como fica a questão da discriminação contra a modelo e a da liberdade do estilista?", disse a diretora da Elite América do Norte.
A semana de moda de Madri usou o índice de massa corporal, ou IMC – baseado no peso e na altura – para medir as modelos. A decisão foi seguida por outros países. Na Índia, o Ministério da Saúde anunciou que o país não quer garotas esquálidas desfilando nas passarelas e atuando como modelos para milhares de meninas que estão sem comer em busca de um perfil esbelto. O ministro Anbumani Ramadoss afirmou ao jornal "The Times" que muitas garotas nas cidades do país estão sofrendo de osteoporose devido à dieta insuficiente. A osteoporose é uma diminuição na massa e na densidade óssea que aumenta o risco de fraturas.
Uma recomendação para não usar modelos excessivamente magras foi dada na Grã-bretanha e, em Israel, alguns dos principais varejistas concordaram em não empregar modelos excessivamente magras para fazer sua publicidade, aderindo à campanha crescente para combater a anorexia no setor da moda.
Fonte: O Globo