Brasil

Operador de vôo responsável pelo Legacy não passou em teste

A insistência das autoridades aeronáuticas em homologar controladores de vôo pela grave carência de pessoal pode ter levado à maior tragédia da avião civil do p

A insistência das autoridades aeronáuticas em homologar controladores de vôo pela grave carência de pessoal pode ter levado à maior tragédia da avião civil do país, a colisão entre o jato Legacy com o Boeing da Gol, no dia 29 de setembro. O controlador que estava vigiando o Legacy quando ele passou por Brasília tinha, de acordo com outros operadores ouvidos pela Agência Estado, pouca experiência e havia sido homologado no início deste ano, bem depois de os demais colegas de turma.

Isto ocorre quando o controlador não consegue ser aprovado em cinco das seis provas práticas a que é submetido, e precisa repetir o treinamento e refazer os testes. Ultimamente, segundo controladores, justamente pela carência de pessoal, a insistência para que os militares continuassem tentando a habilitação era grande. Os controladores lembram que o profissional responsável pelo monitoramento do Legacy ao passar por Brasília pode ter se distraído ou estava ocupado com outras aeronaves e não acompanhou as trocas de altitude do jato. Pode, ainda, ter sido induzido a erro pelos equipamentos, que não consideram confiáveis.

A homologação de controladores tem sido motivo de pressão de oficiais superiores sobre sargentos instrutores. Apesar da imposição, muitos instrutores têm se negado a homologar quem consideram inabilitado. Quando um desses consegue ser homologado, esclarecem, a culpa não é do controlador, mas das autoridades e do sistema, que insistem em aumentar o número de funcionários. O controlador que monitorava o Legacy não tinha perfil para executar a função, conforme colegas.

Não por incompetência, mas por ser uma pessoa com dificuldade em se concentrar e que, por várias vezes, já havia sido avisado de que não poderia ser tão disperso. Não era culpa dele, é uma característica, que o impediria, naturalmente, para ser habilitado para o posto. Mas, depois de muita insistência, ele conseguiu ser aprovado, disse um instrutor.

Durante a instrução dele, era natural perceber que ele era devagar e esse tipo de função exige agilidade. É como um videogame: se não for ágil, esperto, as conseqüências podem ser desastrosas, disse outro operador. Ele foi homologado bem depois da turma dele. O sistema insistiu muito com ele, apesar de ele ter limitações para o serviço, comentou um terceiro.

A Aeronáutica diz que todos os controladores passam por testes antes de serem habilitados. Mesmo depois do choque, dizem controladores, houve tentativas de se trazer sargentos da Defesa Aérea, que não são habilitados para o tráfego civil, para exercerem a função. Mas instrutores se recusaram a aceitá-los sem treinamento. Aquilo não é curso de inglês, que você aumenta o número de horas para a pessoa aprender mais rápido. Cada ponto são 150 vidas dentro de um vôo, desabafou.

Por causa do acidente, procedimentos estão sendo alterados no Cindacta-1. Foi criado o posto de oficial de dia. E os oficiais, a maioria pilotos, que antes pouco se inteiravam dos problemas, ficaram surpresos ao constatar as dificuldades da categoria. 

Fonte: G1

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