Dezoito bingos foram interditados hoje, na terceira operação da Polícia Federal no Rio de Janeiro em dois dias consecutivos. Oitenta caminhões foram mobilizados para recolher 4.800 máquinas de vídeo-bingo, avaliadas em R$ 75 milhões.
O Ministério Público Federal informou que a Justiça decretou a prisão de 19 acusados de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis – policiais civis e militares, advogados e um jornalista. Dez já estão presos e nove mandados devem ser cumpridos neste sábado.
O delegado Alessandro Moretti informou que a PF começou a investigar a disputa entre quadrilhas rivais pelo controle do jogo na zona oeste e o envolvimento de policiais, que dariam sustentação "para que a guerra não chegasse ao caos".
Os agentes chegaram a policiais ligados ao ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, acusado pela PF de ser o líder da quadrilha: "Álvaro Lins é apontado como o chefe desse grupo", afirmou Moretti.
Ele explicou que a casa de Lins não foi revistada, apesar de haver mandado de busca e apreensão, porque houve dúvidas quanto à competência da decisão judicial, já que o delegado havia sido diplomado deputado estadual. "Não houve tempo de consultar o Tribunal Regional Eleitoral e não iríamos colocar em risco toda a operação por causa de uma divergência de entendimento quanto à competência judicial", afirmou.
O Ministério Público Federal informou ainda que a Justiça determinou mandado de busca e apreensão na casa do jornalista da Rede Globo José Messias Xavier. De acordo com as acusações, Messias "recebia mensalmente da organização criminosa para repassar informações sobre movimentações das Polícias Civil e Federal que pudessem atrapalhar os interesses da quadrilha". A prisão preventiva dele pedida pelo MPF não foi decretada pela Justiça.
"É importante salientar que a participação do jornalista foi descoberta durante as investigações, a partir do monitoramento telefônico de integrantes do grupo de Iggnácio (Fernando Iggnácio, bicheiro), em especial o advogado Silvio Maciel de Carvalho, seu principal elo de contato, com quem mantinha freqüentes ligações telefônicas", diz nota do MP. Xavier não foi localizado pelo Estado. A Rede Globo também não se pronunciou.
Ouro de Tolo
A operação Ouro de Tolo foi deflagrada para combater os crimes de descaminho, contrabando e sonegação de tributos cometidas pelos donos de bingos. "A discussão jurídica sobre o jogo é violenta e não vou entrar no mérito. A Polícia Federal está centrada no crime. Esses componentes não são fabricados no Brasil e não podem ser importados", afirmou o delegado federal Cristiano Sampaio.
Ao todo, 431 agentes federais vindos de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Brasília e Paraná permanecem na cidade para cumprir os mandados de prisão e de busca e apreensão. A partir de 7h30, ônibus de turismo começaram a deixar o Centro de Educação Almirante Adalberto Nunes (Cefam), da Marinha, na Avenida Brasil, onde os agentes que participaram da operação passaram a noite.
Na frente do Bingo Arpoador, na zona sul, 30 agentes desembarcaram para cumprir mandados de busca e apreensão. Lá, havia 320 máquinas de videobingo. Trinta caminhões-baú de frete foram contratados pela PF para transportar os máquinas.
Agência Estado