Ao final de um ano marcado por campanha eleitoral dura e relação difícil com a imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu nesta sexta-feira conversar mais e melhor com políticos e jornalistas no segundo mandato.
"Agora está mais fácil fazer as costuras políticas. Vamos conseguir um governo de coalizão sem problemas, sem trauma. Quero me reunir mais com os presidentes de partidos, os líderes, até com a imprensa quero conversar mais", disse Lula em café-da-manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.
Por uma hora e meia, Lula falou sobre planos de governo (crescimento da economia) e pessoais (férias em janeiro), contou histórias de pescador, ironizou as "futricas" entre ministros, diante de 80 repórteres, fotógrafos e cinegrafistas.
Foi o segundo encontro informal de Lula com o comitê de imprensa do Planalto em quatro anos de governo. O outro foi em 2003, meses depois da posse. Ambos, com a popularidade no máximo, segundo as pesquisas.
"Espero que seja um ano melhor no relacionamento pessoal, meu e do governo, com a imprensa brasileira. De vez em quando, digo que sou muito bem tratado e preciso apenas retribuir o tratamento que recebo. Vou ser mais cordial nos próximos anos", prometeu.
Dirigentes do PT e auxiliares de Lula acusam "setores da imprensa" de terem sido parciais na cobertura das eleições, marcada na reta final pela repercussão de uma crise no partido, o chamado "dossiê dos sanguessugas".
"Durante a campanha, algumas entrevistas pareciam mais uma inquisição do que entrevista, mas acho que foi bom, faz parte da cultura política do Brasil, faz parte do aprendizado de todos nós", afirmou o presidente.
"NINGUÉM MOLHADO"
Lula aproveitou o encontro para desautorizar rumores sobre reforma ministerial e até mudanças pontuais na equipe antes da posse em janeiro. Disse que os ministros nem precisam participar da posse, porque vão ficar.
"Ministro não tem mandato. Até os que andam dizendo a vocês que estão de saída só vão sair quando eu quiser que saiam", garantiu.
Lula fez piada quando lhe perguntaram se iria "enxugar" o ministério. "Enxugar? Não tem ninguém molhado", reagiu.
O presidente falou também sobre a declaração polêmica de que, aos 61 anos de idade, teria encontrado o equilíbrio entre esquerda e direita.
"Eu sou torneiro mecânico de profissão, católico por opção religiosa, e corintiano por opção futebolística. Se ser de esquerda é defender as coisas que eu defendo na área social, eu sou de esquerda."
O governo "não é de esquerda", segundo Lula, "mas governa em função da correlação de força política na sociedade, com forte inclinação para atendimento das demandas sociais".
HISTÓRIA DE PESCADOR
Antes de falar sobre os planos do governo e responder perguntas sobre a crise nos aeroportos, teto do funcionalismo e reforma ministerial, Lula abriu um "segredo de Estado": os números da balança pessoal.
"Entrei no governo pesando 92 quilos, cheguei a 98, comecei uma dieta no Natal do ano passado e agora estou com 83 (quilos)", disse Lula.
Em quatro anos de governo, nenhum dos auxiliares do presidente jamais falou à imprensa sobre esse assunto da "vida particular".
Adepto da dieta de South Beach, que reduz o consumo de carboidratos, Lula comeu pão-de-queijo, tomou café com adoçante (cinco gotas por xícara pequena) e tirou alguns tragos de uma cigarrilha holandesa, sob compromisso de não ser fotografado ou filmado fumando.
O presidente disse que se sente "sozinho" em Brasília, não por culpa da cidade, mas das limitações de cerimonial, da segurança e até dos ciúmes de "companheiros ministros".
"Em 1980, Fidel (Castro) visitou minha casa e me assustei com seguranças armados até os dentes, porque é o trabalho deles. Não brigo com segurança, mas não quero incomodar ninguém", declarou.
"Se eu chamar um companheiro ministro (ao Alvorada ou ao Torto), outros podem ficar com inveja. É muita futrica", acrescentou.
Praticante de pesca amadora, Lula falou sobre os espécimes que são levados para o lago do Alvorada, com destaque para um jaú, híbrido criado nos laboratórios da Embrapa, que teria comido filhotes de pato.
"Tínhamos 24 patinhos no lago, uns patinhos lindos, e eles estavam sumindo. Fomos ver e era um jaú de 50 quilos que abocanhava os bichinhos", contou o presidente-pescador.
Reuters