As orações feitas ao longo de nove meses e novenas dedicadas a frei Galvão mais a ingestão de suas “pílulas” com alegado poder de cura concederam a Sandra Grossi de Almeida, de 37 anos, e a seu filho Enzo de Almeida, de 7, o “milagre duplo” de uma gravidez de alto risco levada a termo e a cura de uma doença grave do recém-nascido. Ocorrido em 1999, foi esse o segundo milagre atribuído ao franciscano Antônio de Sant’Ana Galvão, o frei Galvão, que, no sábado passado, fez dele o primeiro santo nascido em terras brasileiras.
“Foi uma graça envolvendo mãe e filho”, diz a freira Célia Cadorin, postuladora (defensora do candidato a santo) da causa do frei. Agora, a cerimônia de canonização já pode ser marcada. “Rezamos para que seja durante a visita do papa ao Brasil, em maio”, diz irmã Célia. Hoje, quando se completam 184 anos da morte do frei (1739-1822), o fim do processo será celebrado às 19 horas na catedral de Guaratinguetá, sua cidade natal.
O segundo milagre do frei – são necessários dois para o Vaticano proclamar um católico santo – foi mantido em sigilo até ontem, quando um decreto assinado pelo papa saiu publicado na Acta Apostolicae Sedis, espécie de Diário Oficial da Santa Sé.
O anúncio surpreendeu até mesmo Sandra. “É um presente e não só para mim. O Brasil inteiro precisava disso”, diz ela. “Somos um País muito católico e precisávamos ter um santo nosso”, completa a devota, que, “mais do que nunca”, tem sempre em casa as pílulas do frei. Dentro de cada “pílula” há três minúsculos pedaços de papel com a inscrição “Depois do parto, permanecestes Virgem. Mãe de Deus, intercedei por nós”. Devem ser ingeridas durante uma novena ao frei.
Sandra foi apresentada a ele por uma amiga da avó assim que descobriu estar grávida de Enzo. Ela havia sofrido quatro abortos devido à formação de seu útero, que não tem espaço para gerar uma criança porque é partido ao meio. “Logo depois de ingerir a primeira pílula, parei de sangrar e as dores da dilatação do útero cederam.”
Longa Espera
A seleção do segundo milagre levou seis anos. Irmã Célia analisou 5.643 graças registradas no Mosteiro da Luz, fundado em 1774 pelo frei. Dessas, 3.520 referiam-se a curas, a maioria com gestações complexas, problemas para engravidar e doenças renais. O caso de Sandra chegou em 2004.
O processo de canonização do frei começou em 1938. Após idas e vindas, foi retomado em 1986. Mas só seguiu ir adiante ao ser assumido, em 1991, por irmã Célia, da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.
Ela entrou no processo a pedido do arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, depois de ter conduzido com rapidez e sucesso a beatificação (e posterior canonização) de Madre Paulina, fundadora de sua congregação.
Em 1998, a Santa Sé já reconhecera a cura de uma menina de 4 anos como o primeiro milagre de frei Galvão. Desenganada pelos médicos por sofrer de um quadro crônico de hepatite B, ela teria sido curada um dia após seus parentes terem apelado ao frade.
Fonte: Ultimo Segundo