BAGDÁ – O ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein, foi enforcado hoje entre 5h30 e 5h45 (0h30 e 0h45 de Brasília) em Bagdá, quatro dias depois de o Tribunal de Cassação ratificar a sua sentença de morte, confirmou Mariam al-Rais, assessora do primeiro-ministro iraquiano. "Parabéns a todos os iraquianos, o criminoso foi executado", afirmou Rais à televisão estatal "al-Iraquiya". O ex-presidente iraquiano, derrubado em abril de 2003 por uma invasão comandada pelos Estados Unidos, foi condenado em novembro por crimes contra a humanidade pelas mortes de 148 xiitas de Dujail após uma tentativa de assassinato em 1982.
O local exato da execução não foi revelado, mas segundo al-Rais "tudo foi filmado". Segundo a assessora, "estas imagens serão difundidas".
Uma corte de apelação manteve a pena de morte nesta terça-feira. O governo iraquiano manteve em segredo seus planos para conduzir a execução em meio a preocupações de que ela poderia levar a atos violentos entre os ex-partidários de Saddam.
O JULGAMENTO
O ex-presidente iraquiano Saddam Hussein manteve uma postura desafiadora até o final do julgamento que terminou por condená-lo à morte.
Sempre deixando claro que não reconhecia a autoridade do tribunal, o réu chegou a qualificar o processo judicial como uma "comédia" e como um show montado pela coalizão de governo xiita e curda, apoiada pelos Estados Unidos.
Nos 14 meses de julgamento, Saddam – que continuava se apresentando como "presidente do Iraque" – foi expulso diversas vezes do tribunal por desrespeitar os procedimentos.
Saddam foi condenado à morte por fatos ocorridos em Dujail, uma aldeia agrícola xiita cerca de 60 quilômetros ao norte de Bagdá. Ali, o então presidente iraquiano havia sido vítima de um frustrado atentado contra a sua comitiva, cometido por jovens locais, em 1982.
Segundo os promotores, Saddam se vingou de forma brutal, ordenando que seus comandantes caçassem, torturassem e matassem mais de 140 moradores de Dujail. Mulheres e crianças teriam sido retiradas à força da aldeia, presas e posteriormente mandadas para campos de confinamento no deserto, onde muitas acabaram desaparecendo. Os campos aráveis da aldeia, antes cheios de tamareiras e hortas, foram salgados e inutilizados.
O QUE SADDAM ALEGAVA
Em março, Saddam admitiu ter ordenado os julgamentos que levaram à execução de dezenas de xiitas na década de 1980, mas disse ter agido de acordo com a lei, nas suas atribuições presidenciais.
Eu os submeti à Corte Revolucionária, conforme a lei. Awad (Al Bander, então presidente do tribunal, também réu no processo) estava implementando a lei, tinha o direito de condenar e absolver.
Eu os destruí. Especificamos os campos dos que foram condenados e assinei. É direito do Estado confiscar ou indenizar. Então onde está o crime?
O QUE AS TESTEMUNHAS DIZIAM
Muitas das testemunhas do julgamento, que era exibido pela TV, depuseram atrás de cortinas e usando um efeito de computador para distorcer suas vozes, pois temiam represálias.
Numa audiência em dezembro de 2005, Ahmed Hassan, 38 anos, contou como ele e seus parentes foram detidos e torturados. O grupo teria sido levado para um departamento de inteligência, em Bagdá, comandado por Barzan Ibrahim Al Tikriti, meio-irmão de Saddam.
Juro por Deus, andei por uma sala e vi um moedor com sangue saindo e cabelo humano por baixo, afirmou.
Em outra audiência, uma mulher identificada apenas como Testemunha A, descreveu, aos prantos, como carcereiros a obrigaram a se despir, lhe deram choques elétricos e a açoitaram com cabos. A Testemunha B, uma septuagenária, disse que seu marido, cinco filhas e dois filhos foram presos.
Outra testemunha, anônima, disse que Barzan estava presente quando ele foi torturado em Bagdá. Durante o interrogatório eles me torturavam, e Barzan estava lá comendo uvas. Eu gritava. Sou um velho. Ele estava lá.
Redação Clickpb