O que diferencia um carro de uma moto? Só o número de rodas? O habitáculo, no carro, ou a ausência de um, na moto? Para muitos, a discussão a respeito disso pode parecer inócua, mas não é diante de novos modelos de triciclos que podem ser tanto carros que se comportam como motos ou motos que se comportam como carros.
Neste segundo time uma das próximas novidades será um modelo da Bombardier, empresa que, além de concorrer com a Embraer, também ataca na fabricação de motos de neve e jet-skis. Outra de suas especialidades é a fabricação de motores de moto, com a Rotax, que fornece para a BMW e para a Aprilia.
Chamado de Threewheeler (fotos 1), o novo veículo terá o mesmo motor que equipa a Aprilia RSV-R, um motor V2, com cilindros a 60º, de 1 litro e 130 cv. Segundo a Automedia, que fotografou o triciclo em testes, o novo veículo terá caixa CVT, com relações de marcha continuamente variáveis, mas o protótipo exibia caixa comum, com trocas no pé.
O objetivo da marca, ao oferecer o Threewheeler, é o de proporcionar a experiência de guiar uma moto, mas com a estabilidade e a segurança que um carro oferece. O triciclo tem até um controle especial de estabilidade desenvolvido pela Bosch especialmente para ele, além de ABS.
Em alguns países, o veículo também poderá ser guiado sem a necessidade de licença especial para moto, bastando ter habilitação para automóveis. O lançamento será em San Diego, nos EUA, no dia 7 de fevereiro de 2007, e as vendas devem ocorrer nos EUA e na Europa, com entregas ainda no primeiro semestre.
Apesar de interessante, a idéia para a criação deste triciclo não é nova. Ela já foi bastante antecipada pela Piaggio, por exemplo, que vende desde 2005, na Europa, o MP3 (fotos 2). Esse simpático scooter também traz duas rodas na dianteira, conceito diferente do que normalmente se vê em triciclos.
As vantagens com esse formato são significativas: além de maior estabilidade, o MP3 pára em pé sozinho e freia melhor (em espaços até 20% menores que os dos melhores scooters, segundo a Piaggio), já que o maior esforço de frenagem é sempre na dianteira de qualquer veículo.
Longe de tirar o prazer de conduzir o MP3, as duas rodas dianteiras “deitam” em curvas, acompanhando a inclinação do condutor, como se ele estivesse em um scooter comum. A vantagem é poder tombá-lo ainda mais em curvas do que seria possível com um modelo de apenas duas rodas. No MP3, um sistema especial de suspensão permite que as dianteiras se inclinem até 40º.
Com dois motores disponíveis, um de 250 cm³ e um de 125 cm³, o MP3 reserva mais surpresas, com um freio de estacionamento eletro-hidráulico que é controlado por um botão, o que elimina a necessidade de cavalete.
Carrros que parecem motos
Sem habitáculo, os triciclos citados acima são exemplos típicos de motos com características de carros. Mas há também aqueles que dispõem de cabine e são carros com um gostinho de duas rodas.
Um dos exemplos mais antigos vem de um fabricante tradicional, a Mercedes-Benz, que em 1997 criou o F 300 Life-Jet (fotos 3). O Jet do nome se refere à cabine, em estilo aeronáutico, com dois lugares, um para o condutor e outro, atrás, para o passageiro, como em aviões-caça, mas não há mais nada neste veículo conceito que remeta aos parentes mais pesados que o ar. O objetivo do F 300 era parecer com uma motocicleta.
E a principal característica dele, para isso acontecer, era o ATC, ou Active Tilt Control, um controle ativo de inclinação da carroceria. Em curvas bem fechadas a alta velocidade, o sistema inclina a carroceria do F 300 para dentro da curva, aumentando ao máximo sua estabilidade e proporcionando uma experiência parecida com a de guiar uma motocicleta, com vantagens.
A aceleração lateral máxima que ele consegue é 0,9 g, algo que pouquíssimos motociclistas conseguem tirar de uma moto e que apenas alguns dos melhores carros esportivos conseguem superar.
Para empurrar o F 300 Life-Jet para a frente, a Mercedes-Benz colocou nele um motor de automóvel, o mesmo 1,6-litro que equipava o Classe A brasileiro, com pouco mais de 100 cv. Em um veículo leve como o F 300, ele fazia milagres: máxima de 211 km/h e 0 a 100 km/h em 7,7 s. Infelizmente, para muitos, esse veículo extraordinário ficou apenas no campo dos estudos.
Outro que ainda não chegou sequer a se materializar é o Peugeot Liion (fotos 4), um dos finalistas do 4º Concurso de Design da marca francesa. Criado por Cristian Sano, um jovem designer romeno de 27 anos, o carro também se inclinará em curvas, caso seja fabricado, e adota uma linha extremamente ecológica.
Para começar, o nome Liion não remete apenas a um leão, em inglês, animal que é símbolo da Peugeot, mas também ao sistema de propulsão do triciclo: elétrico, com baterias de lítio íon. O motor elétrico não está dentro da cabine, mas alojado dentro da roda traseira, como tudo aponta que serão os carros do futuro.
Como o carro ainda está concorrendo ao prêmio, não há garantias para sua produção em série, o que não acontece com o Carver One (fotos 5), um triciclo holandês que já é fabricado e vendido em série, com capacidade para o motorista e um passageiro, que também viaja atrás, como no F 300 Life-Jet.
Diferentemente dos outros veículos apresentados aqui, o Carver segue a receita tradicional para os triciclos, com três rodas atrás e uma na dianteira. Isso deve se dever ao privilégio que é dado à tração e ao desempenho.
O motor, diga-se, é pequeno: tem apenas 659 cm³, o que o aproxima ainda mais das motocicletas. Com quatro cilindros, quatro válvulas por cilindro e turbo, ele chega a 68 cv a 6.000 rpm. Não é muito mais do que um carro com motor 1-litro consegue (chega a ser menos), mas, para os 643 kg do Carver One, é o suficiente para levá-lo à máxima de 185 km/h e de 0 a 100 km/h em 8,2 s.
Não se pode dizer que sejam números de encher os olhos, mas o fato de o Carver se inclinar até 45º em curvas faz com que ele pareça uma moto superesportiva, com a vantagem de ter cinto de segurança e, por incrível que pareça, volante.
Com meros 3,40 m de comprimento (22 cm menor do que um Ford Ka), o Carver One se oferece como uma boa solução para o trânsito urbano, com um toque de emoção e esportividade. Pena é que o preço ainda é alto, mesmo para os padrões europeus.
O Carver One mais simples custa 29,95 mil euros, cerca de R$ 84,5 mil. O mais sofisticado sai por 37.955 euros, ou pouco mais de R$ 107 mil. Ar-condicionado não está disponível em nenhuma das versões, mas o teto é removível, o que pode dar a quem gosta de motos um gosto próximo de liberdade.
Com o tempo, os veículos devem se tornar cada vez menores, mais leves e racionais. Carros com capacidade para apenas duas pessoas, ou uma só, serão rotina, maximizando o espaço nas ruas e o consumo de combustível, sem a necessidade de quatro ou cinco lugares que raramente são utilizados.
Como as motos são consideradas extremamente racionais, mas ainda despertam receio em muita gente, e os carros convencionais podem parecer um exagero para quem quer apenas chegar no serviço, um dos caminhos para conciliar o que cada universo oferece de melhor pode estar nos triciclos. Independentemente do papel que exercerão no transporte do futuro, eles já estão chegando.
Msn