O novo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, apoiou nesta quarta-feira o apelo feito pela alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Louise Arbour, para que o Iraque não execute os outros dois condenados à morte no mesmo julgamento de Saddam Hussein.
Arbour manifestou preocupação em relação à imparcialidade do julgamento que condenou à morte o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein, o ex-chefe da Corte Revolucionária do Iraque Awad Hamed al-Bandar e o ex-chefe do serviço de inteligência iraquiano Barzan Ibrahim al-Tikriti, que é meio-irmão de Saddam.
Os três réus foram condenados à morte por um tribunal iraquiano no dia 5 de novembro, devido à participação no assassinato de 148 pessoas, a maioria xiitas, na cidade de Dujail, em 1982.
Saddam foi executado por enforcamento no sábado, em Bagdá.
Há rumores de que os outros dois réus seriam enforcados nesta quinta-feira, quando termina o festival religioso muçulmano do Eid al-Adha.
Posição da ONU
A manifestação de apoio do secretário-geral da ONU ocorreu um dia depois de ele ter dito que Saddam era responsável por atrocidades indescritíveis contra o povo iraquiano, mas que os países deveriam decidir individualmente como se posicionar sobre o assunto.
O fato de Ban não ter condenado nem defendido a execução de Saddam na terça-feira levou o porta-voz da ONU a negar que a organização tivesse mudado sua política, tradicionalmente contrária à pena de morte.
A alta comissária de Direitos Humanos disse que apelou diretamente ao presidente do Iraque, Jalal Talabani, para que as sentenças de morte contra dos dois réus não sejam cumpridas.
Arbour afirmou que, pela lei internacional, os homens devem ter a chance de buscar o perdão ou ter suas sentenças comutadas.
Inicialmente, a previsão era de que os dois seriam enforcados já no sábado, com Saddam.
Um funcionário do governo iraquiano, Sami al-Askari, negou nesta quarta-feira que a data da execução dos dois réus já tenha sido marcada.
Antes da execução de Saddam, Arbour já havia feito um apelo semelhante.
Controvérsia
O novo apelo ocorre em meio à crescente controvérsia em torno das circunstâncias em que Saddam foi executado.
Nesta quarta-feira, o governo iraquiano iniciou uma investigação sobre a troca de ofensas entre o ex-presidente e pessoas presentes ao local da execução e também sobre a origem de um vídeo não-oficial do enforcamento.
Autoridades iraquianas afirmaram que pelo menos um guarda presente à execução estava sendo interrogado sobre as imagens, aparentemente gravadas com um telefone celular.
O conselheiro de Segurança Nacional do Iraque, Mouwaffaq al-Rubaie, condenou a divulgação das imagens, consideradas por ele uma tentativa de aumentar a divisão sectária no país.
Ainda nesta quarta-feira, militares dos Estados Unidos no Iraque disseram que teriam realizado de forma diferente a execução de Saddam Hussein.
Segundo um porta-voz das forças militares americanas no Iraque, general William Caldwell, os americanos não tiveram nenhum envolvimento na execução, realizada por iraquianos.
BBC Brasil