A cúpula de Segurança do Rio de Janeiro está se preparando para evitar represálias do crime organizado pela transferência de 12 detentos para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Além de contar com o auxílio da Força Nacional de Segurança, que deve chegar a qualquer momento, o Rio acionou os serviços de inteligência da polícia e se prepara para possíveis novos ataques.
"Os serviços de inteligência estão trabalhando de forma integrada e pró-ativa, as forças policiais estão nas ruas e estamos fazendo todo possível para a contenção de qualquer medida de retaliação", declarou o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, no final da tarde de ontem.
Em relação ao envio das tropas da Força Nacional de Segurança, Beltrame afirmou que poderá ser antecipada no caso de possíveis ataques do crime organizado em represália à transferência dos chefões do tráfico. "A Força Nacional está pronta. As tropas podem chegar ao Rio nas próximas horas", disse o secretário.
"Essa possibilidade de represália já estava prevista quando decidimos pela transferência. Se houver algum ataque considerado crítico, a força poderá ser colocada em pontos estratégicos", afirmou Beltrame.
Ontem, o secretário nacional de segurança pública, Luiz Fernando Corrêa, anunciou que 600 homens da Força Nacional já estavam se deslocando ao Rio de Janeiro e poderiam desembarcar a qualquer momento. Ele disse ainda que dos 7.897 policiais que compõem a Força Nacional cerca de 6,5 mil devem fazer parte do plano de segurança no Rio durante os Jogos Pan-Americanos.
Também na sexta-feira, o ministro da Defesa, Waldir Pires, infirmou que o Estado do Rio de Janeiro tem direito de utilizar cinco mil homens das Forças Armadas caso seja necessário. "Essa é uma demonstração de solidariedade do governo federal com a situação pela qual passa o Rio de Janeiro", comentou Pires.
Vigilância
Segundo o jornal O Dia, sexta-feira à noite, pelo rádio da Polícia Militar, policiais orientavam para que as rondas fossem feitas em comboio, ou seja, para que os policiais, sempre em grupo, ficassem atentos a possíveis ataques. De acordo com Beltrame, a fim de prevenir qualquer retaliação do crime organizado à transferência dos chefões, o serviço de inteligência está integrado e funcionando de forma ativa.
"As polícias Civil e Militar estão a postos para evitar qualquer tipo de retaliação", afirmou. "Há o aumento de policiamento em pontos estratégicos da cidade", acrescentou. Beltrame ressaltou ainda que a Força Nacional está pronta para ser mobilizada.
Segundo ele, a transferência de presos "não foi uma ação da Secretaria de Segurança, mas do Estado". Ele disse ainda: "Estamos juntos nessa luta com outras instituições no processo de integração".
De acordo com o secretário, o governador Sérgio Cabral recebeu ontem a primeira parte do plano operacional da atuação da Força Nacional. A segunda parte do planejamento será finalizada terça-feira, durante reunião de Beltrame e Cabral no Gabinete de Gestão Integrada Sudeste, com os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, de São Paulo, José Serra, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, e seus secretários de Segurança.
Isolamento
Os 12 presos transferidos para Catanduvas devem permanecer pelo menos por quatro meses sob o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Eles ficarão totalmente isolados, sem qualquer contato entre si. A medida foi tomada após a constatação da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro de que há fortes indícios que apontam os presos transferidos como mandantes dos ataques que deixaram 19 mortos na última semana de dezembro no Rio.
Para evitar a comunicação entre presos conhecidos, a direção do presídio organiza grupos que vão ao pátio em horários diferentes. Cada grupo é formado por detentos de vários Estados, sem nenhuma ligação.
Inaugurado dia 23 de junho, o presídio tem 208 celas, de dois tipos – uma com seis metros quadrados e outra com o dobro. Nos cubículos, há cama, pia e vaso sanitário. Tudo em concreto, com chapas de aço internas, mesmo material colocado nas paredes e piso. Os presos são monitorados 24 horas por 200 câmeras e 160 agentes, que têm comunicação restrita com os detentos – as conversas são gravadas por microfones de lapela.
A cadeia tem aparelhos de raio X e coleta de digitais, detectores de metal e espectômetros ¿ que identificam vestígios de drogas, armas e explosivos. Beira-Mar foi o primeiro detento a ser levado para o presídio, no dia 19 de julho.
Terra com agências