Dos 81 senadores que farão parte da próxima legislatura, 15 receberam doações de campanha de seus suplentes, que podem assumir o mandato sem terem recebido nenhum voto. No ano passado, 27 senadores foram eleitos e cinco foram financiados, em parte, pelos seus possíveis substitutos.
O montante doado pelos suplentes varia de R$ 5.000 a R$ 1,2 milhão. Se o critério for o total arrecadado, as quantias vão de 0,75% a 50%. Atualmente, 12 senadores no exercício do mandato são suplentes, ou seja, 15% do Senado.
O caso mais emblemático é o do ministro Hélio Costa (Comunicações), eleito senador em 2002 e licenciado desde julho de 2005. Seu suplente, Wellington Salgado (PMDB-MG), financiou 50% da campanha. Salgado e sua família são donos da Universo (Universidade Salgado de Oliveira) e da Unitri (Centro Universitário do Triângulo). Salgado é presidente da Comissão de Educação e jamais exercera cargo eletivo.
Valdir Raupp (PMDB-RO) disse que recebeu, em 2002, proposta de pagamento por uma das duas vagas de suplente. "Teve empresário na época, de fora de Rondônia, que chegou a oferecer R$ 1,5 milhão para ser meu suplente. Sabiam que eu podia ser governador quatro anos depois." O mandato de senador é de oito anos. Raupp recebeu R$ 31.700 de seu primeiro suplente, Tomás Correia, o que corresponde a 11% das receitas da campanha.
Na Câmara, o sistema é diferente. Se o cargo fica vago, o titular é substituído pelo candidato mais votado da coligação.
Senador eleito no ano passado, Mário Couto (PSDB-PA) teve 26,7% da campanha financiada pelo suplente Demetrius Ribeiro, presidente do conselho administrativo da Usina Siderúrgica de Marabá. Ele doou R$ 350 mil para a campanha.
Reforma política
O sistema de suplência do Senado não está no escopo da reforma política em tramitação na Câmara, mas há propostas de alteração do modelo em discussão no Congresso. O senador Jefferson Péres (PDT-AM) é autor de projeto de lei que está na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
Péres propõe que os suplentes tomem posse apenas em casos de licença do titular. Já no caso de vacância por morte, perda de mandato ou renúncia, o novo senador seria escolhido nas eleições federais ou municipais subseqüentes.
"Não se afigura adequado e democrático o suplente de senador ganhar muitos anos de mandato sem o voto popular, circunstância que tem acontecido quando a vaga ocorre logo no início do mandato do titular", afirma Péres na justificativa do projeto.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) está colhendo assinaturas para a apresentação de proposta de emenda constitucional sobre o assunto. Por essa PEC, os dois suplentes de senador também seriam eleitos de forma direta. Cada partido ou coligação poderia apresentar até três candidatos a suplente.
Outro lado
Com exceção de Wellington Salgado (PMDB-MG), os demais senadores procurados pela Folha negaram que as doações de campanha feitas pelos suplentes tenham influenciado na montagem da chapa eleitoral.
Wellington Salgado (PMDB-MG) afirmou que dois fatores influenciaram na escolha de seu nome como suplente de Hélio Costa, atual ministro das Comunicações. "Um foi a minha presença no Triângulo Mineiro, onde tenho faculdade e um time de basquete, e o segundo é o apoio financeiro, claro", afirmou.
Já Mário Couto (PSDB-PA) informou que Demetrius Ribeiro foi indicado para ser seu suplente por ser um empresário influente na região de Marabá.
Alfredo Nascimento (PR-AM), ex-ministro dos Transportes, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que, se a doação de R$ 10 mil feita por Aluísio Braga tivesse alguma influência, ele seria o primeiro e não o segundo suplente.
Eleito em 2002, Osmar Dias (PDT-PR) recebeu R$ 117.588 de seu suplente José Carlos Gomes Carvalho, que já faleceu. Dias afirma que ele próprio colocou R$ 108.117 na campanha.
Papaléo Paes (PSDB-AP) diz que tanto Uilton José, segundo suplente, quanto o Sebastião Cristovan, primeiro suplente, são seus amigos. "Escolhi eles, que são de confiança, para não me empurrarem qualquer um."
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) disse que escolheu Tomás Correia para compor a chapa ao Senado por ele ter sido prefeito de Porto Velho e deputado constituinte.
O senador Delcídio Amaral (PT-MS), também eleito em 2002 e que presidiu a CPI dos Correios, tem como suplente Antonio João Rodrigues, dono de rádio, TV e jornal no Estado. "Eu o escolhi porque é um formador de opinião, não foi para bancar minha campanha", diz.
Magno Malta (PR-ES) diz que "Francisco Pereira foi escolhido por ser um amigo que eu sempre respeitei, professar a mesma fé, ser um bom pai de família, ter boa índole e, por deliberação partidária". Chico Pneus, como é conhecido o suplente, foi preso na operação Esfinge da Polícia Federal, no início deste ano, acusado de sonegação fiscal.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que o critério para a escolha de seus suplentes foi político.
A campanha do pefelista Paulo Octávio (DF) recebeu R$ 110.152 do suplente Adelmir Santana, que é dono de uma rede de farmácias e presidente da Fecomércio (Federação do Comércio) do Distrito Federal. "Eu o escolhi porque é do PFL e uma pessoa respeitada. Ele não é um superempresário", afirmou Paulo Octávio.
Cícero Lucena (PSDB-PB) afirmou que escolheu seus suplentes por questões partidárias e por terem influência em diferentes regiões de seu Estado.
Raimundo Colombo (PFL-SC) negou que o dinheiro doado tenha contribuído para a indicação de Casildo Maldaner para a vaga de suplente.
Os senadores José Maranhão (PMDB-PB), Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Jonas Pinheiro (PFL-MT) não se manifestaram sobre a composição de suas chapas.
Folha de São Paulo