O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ameaçou nesta segunda-feira dar uma "resposta firme" ao Irã caso o país persa intensifique sua ação militar no Iraque ou ameace as forças americanas em combate. A ameaça de Bush é uma reação a uma reportagem do jornal "The New York Times", que afirmou em sua edição de hoje que o Irã pretende aumentar seus laços militares e econômicos com o Iraque.
A Casa Branca acusa o Irã de apoiar terroristas no Iraque e de fornecer armamento aos insurgentes que lutam contra a coalizão americana no país árabe. Hoje, os EUA se mostraram céticos quanto aos supostos planos do Irã revelados pelo "Times". "Se o Irã intensificar suas ações militares no Iraque e prejudicarem nossas tropas ou iraquianos inocentes, vamos responder com firmeza", disse Bush, em uma entrevista à Radio Pública Nacional americana.
Os comentários do presidente reforçaram comunicados anteriores da Casa Branca. "Se o Irã desistir de seu papel destrutivo nas questões do Iraque e adotar um papel construtivo, certamente serão bem-recebidos", disse hoje o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, Gordon Johndroe. Mas, segundo ele, "até hoje não vimos muitas provas de ações construtivas, e francamente, temos visto provas do contrário".
Além da crescente tensão entre Washington e Teerã com relação ao Iraque, os EUA também são fortes críticos do programa nuclear do país persa, que acusam de ter o objetivo de construir armas de destruição em massa. O Irã nega.
Laços militares e econômicos
De acordo com o "New York Times", o plano de expansão do papel militar e econômico de Teerã pode trazer ainda mais tensão ao Iraque, onde os EUA detiveram recentemente um grande número de iranianos, acusados de cumplicidade em ataques contra forças dos EUA.
O jornal afirma que o plano foi revelado pelo embaixador iraniano para o Iraque, Hassan Kazemi Qumi.
Segundo o embaixador, o Irã está preparado para oferecer treinamento, equipamentos e assessores às forças iraquianas, em uma ação qualificada por Qumi como "luta pela segurança".
Na área econômica, segundo ele, o Irã se prontifica a assumir responsabilidade maior pela reconstrução do país área na qual os EUA falharam desde a deposição do ex-ditador Saddam Hussein, em 2003. "Nós vivenciamos a reconstrução após a guerra", disse Qumi, em referência ao conflito entre Irã e Iraque, na década de 80.
"Estamos prontos para transferir nossa experiência para os iraquianos", acrescentou.
Capturar e matar iranianos
As declarações de Qumi ao "Times" são uma resposta às acusações anteriores de Bush de que o Irã age contra os interesses americanos no Iraque.
Na sexta-feira (26), Bush autorizou o Exército dos EUA a matar ou capturar militantes iranianos em atividade no Iraque, como parte de uma estratégia agressiva para enfraquecer a influência do Irã no Oriente Médio e pressionar para que o país abandone seu programa nuclear.
As tropas dos EUA no Iraque agora têm permissão para alvejar membros da Corte Revolucionária do Irã, assim como membros da inteligência que estejam a serviço das milícias armadas que atuam no país. A política não se estende à civis ou diplomatas iranianos.
Banco
Qumi afirmou ainda que o Irã pretende inaugurar em breve um banco nacional no Iraque, criando uma instituição financeira iraniana no país ainda controlado pelas forças dos EUA.
Segundo o "Times", que cita o banqueiro iraquiano Hussein al Uzri, o Irã já recebeu permissão para abrir o banco no Iraque. "Isso fortalecerá o comércio entre os dois países", disse Uzri.
De acordo com Qumi, o banco será apenas o primeiro de várias instituições iranianas que serão inauguradas no Iraque.
Outros elementos de cooperação econômica incluem planos de enviar carregamentos de combustível e eletricidade para o Iraque, além de uma cooperativa na área da agricultura.
O embaixador não forneceu detalhes a respeito da ajuda militar iraniana ao Iraque, mas disse que ela incluiria mais policiais na fronteira e até mesmo um comitê conjunto de segurança.
Ação iraniana
Segundo o jornal "Washington Post", 150 agentes da inteligência iraniana, além de membros do Comando da Guarda Revolucionária do Irã, estão em atividade no Iraque atualmente. Não há evidências de que iranianos tenham atacado diretamente soldados dos EUA no país.
No entanto, por cerca de três anos, iranianos oferecem treinamento, inteligência e armas para milícias xiitas ligadas ao governo iraquiano, para a insurgência e para a violência contra sunitas.
O diretor da CIA, Michael V. Hayden, afirmou recentemente ao Senado que o uso de armas de origem iraniana utilizadas contra as forças americanas no Iraque "é bastante significativo".
O plano de "capturar e matar" elaborado por Bush causou apreensão entre as agências de inteligência, o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos EUA, que temem que tal política faça crescer o conflito entre o Irã e os EUA no Iraque.
Folha Online