O governo do Iraque acusou na quarta-feira a TV Al Jazeera, emissora que expulsou do país há dois anos, de ajudar a "espalhar a morte e a destruição" com suas reportagens.
O gabinete pediu ao Parlamento que tome providências legais contra a emissora árabe por via satélite, com sede no Catar, que vem irritando o governo liderado pelos xiitas por sua cobertura da situação no Iraque.
"A Al Jazeera continua com uma posição descarada contra o povo iraquiano e contribui para espalhar a morte e a destruição no Iraque", afirmou o gabinete.
A emissora afirmou que a declaração é "infundada e ridícula." "O governo iraquiano está procurando um bode expiatório para justificar o fracasso em garantir a segurança e a estabilidade do Iraque", disse Ahmed Sheikh, editor-chefe do serviço em árabe da Al Jazeera.
O governo iraquiano proibiu há dois anos a emissora de fazer reportagens no Iraque, mas o novo serviço em inglês da Al Jazeera marca presença em Bagdá e continua transmitindo da região autônoma do Curdistão, no norte do país.
As autoridades iraquianas acusam a Al Jazeera de fomentar o sectarismo entre a maioria xiita, já dividida entre si, e os sunitas, conflito que vem recrudescendo desde o ataque contra uma mesquita xiita em fevereiro de 2006.
"A Al Jazeera transmite programas que tentam criar um clima de confusão, distorcer os fatos e distrair a opinião pública internacional dos crimes desastrosos cometidos por gangues," afirmou a nota. "Pedimos ao Parlamento que tome uma atitude rígida e clara contra esse canal e que use os meios legais para processá-la e conter sua hostilidade em relação às aspirações e às ambições do povo iraquiano e do governo nacional."
O gabinete não deu uma justificativa específica para as novas críticas, mas uma fonte da aliança governista xiita disse que na terça-feira foi transmitido um programa de entrevistas com críticas ao governo e a partidos xiitas.
O governo já se mostrou facilmente atingível pelas críticas, atacando meios de comunicação que afirma estar incitando o sectarismo ou a violência. A maioria das emissoras locais é controlada por partidos políticos ou facções religiosas.
Em janeiro, o governo determinou o fechamento do Sharkiya, um canal iraquiano com sede em Dubai, e em novembro duas emissoras locais chegaram a ser tiradas do ar. Também obrigou a principal rival da Al Jazeera, a Al Arabiya, a fechar por um mês seu escritório em Bagdá, em setembro.
"Eles (o governo iraquiano) não gostam que alguém como a Al Jazeera destaque problemas como as milícias, a corrupção e todos os outros. A Al Jazeera tem uma grande influência sobre a opinião pública árabe", disse o analista Mustafa Alani, especializado em Iraque.
Reuters