Pesquisa divulgada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) revela que 90% dos adolescentes infratores internados em unidades de recuperação não completaram o ensino fundamental, embora tenham idade compatível com o ensino médio. Os dados do estudo, referentes a 2002, também mostram que de um total de 9.555 jovens internados em instituições, 51% não freqüentavam a escola.
O levantamento mostra que, além de terem baixa escolaridade, 90% dos adolescentes internos eram sexo masculino, 76% tinham idade entre 16 e 18 anos, mais de 60% eram negros, 80% viviam com renda familiar de até dois salários mínimos e 86% eram usuários de drogas.
Para o economista do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) Francisco Sadeck, integrante do Fórum Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente, mudar a realidade desses adolescentes implica fortalecer ações de ações de geração de renda e de qualificação profissional dos pais.
Segundo ele, em geral, os jovens que cumprem medidas socioeducativas em unidades de internação são filhos de pais que também não concluíram nem o ensino fundamental. "O pai não tem escolaridade, então a importância da educação para ele não é tanta. Entre colocar um filho na escola ou trabalhar para ajudar em casa, muitos preferem colocar para trabalhar".
Sadeck defende que "os pais precisam dessas oportunidades para garantir que os seus filhos continuem estudando". Para ele, não há dúvidas de que a educação, ao lado da cultura, é uma das principais ferramentas para "promover a transformação social no país". Na avaliação do economista, os investimentos em políticas públicas são mais importantes que mudanças na legislação para reduzir a violência entre os adolescentes.
"Quando esses jovens vão cometer um crime, não estão preocupadas se vão cumprir medidas socioeducativas ou se vão para um presídio. Estão preocupados se vão ser pegos pela polícia ou não", observou.
Especialista na área de segurança pública, o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) José Augusto Rodrigues tem outra opinião. Ele acredita que penas mais rigorosas poderiam acabar com a "sensação de impunidade" de adolescentes que cometem crimes.
Agência Brasil