Vira e mexe vem uma nova vistoria, uma fiscalização ou uma reclamação da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, famosa obra do arquiteto Oscar Niemeyer. De arquitetura belíssima, sem dúvida, o conjunto deixa a desejar em relação aos vários problemas causados na parte de sua estrutura. Alagamentos, rachaduras e licitações suspeitas são alguns deles.
Na verdade, o prefeito da época e hoje governador Ricardo Coutinho queria fazer uma obra de impacto que representasse a sua gestão e que fosse inaugurada antes do término do seu primeiro mandato. Seria uma espécie de filho maior do gestor com o DNA verdadeiramente marcado para a eternidade. A pressa, no entanto, é inimiga da perfeição.
A começar pela sua localização, o dano causado ao meio ambiente é reconhecidamente imperdoável. Talvez fosse mais produtivo ter acatado o projeto inicial de Burle Marx que previa a transformação daquela área em Parque Nacional. Construído em terreno sedimentar, a falésia do Cabo Branco vive em permanente processo de erosão. Isso é fato! Na época, lembro-me bem, não houve discussão ou um fórum popular para a realização da obra. Nem mesmo o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) foi previamente consultado e a vontade de sua realização atropelou literalmente toda e qualquer opinião das entidades representativas que tinham interesse em discutir o projeto. O fato de não ter acontecido concurso público para escolha da elaboração do mesmo foi outro motivo que irritou profundamente os arquitetos. Ora, a prioridade do gestor era essa e nada mudaria o rumo de sua construção, mesmo que para isso tivesse que passar por cima de qualquer discussão. E assim aconteceu!
Quando o projeto da Estação Cabo Branco foi apresentado pela primeira vez aos vereadores já sabíamos que era prego batido e ponta virada a sua realização. Assim mesmo, discordei com algumas falhas técnicas da obra. O Teatro de Arena, por exemplo, foi construído na posição poente tornando-o inviável para o uso de apresentações artísticas durante o dia. O sol bate diretamente no palco provocando um calor insuportável. Um espaço que é apenas utilizado no período noturno faz limitar, sem dúvidas, o seu aproveitamento cultural. Disseram-me que não poderiam mexer no projeto. Ora, e por que não viram isso antes e só se preocuparam com a estética da obra e não com a sua utilidade? Será que não avisaram a Niemeyer onde o sol nascia? Outra questão que na época abordei, foi em relação ao auditório que tinha em seu projeto inicial apenas 250 lugares. Sugeri, através de requerimento na Câmara de Vereadores, que fosse adaptado para 1.500 lugares transformando-o também em teatro. Acataram em parte a proposta e duplicaram a sua capacidade, mas isso não resolveu a questão. Tanto é que estão construindo o complexo ao lado com a finalidade de agregar esses equipamentos.
No mês em que se comemora seu terceiro aniversário, a grande obra de Niemeyer e da Prefeitura Municipal ainda não disse literalmente a que veio. Parece-me pouco funcional quando deveria ser a grande revolução da ciência, arte e cultura na cidade.
Como isso não aconteceu, espero que o seu pai e idealizador agora como governador, traga para a Estação Ciência razões que justifiquem a sua finalidade que, pela enorme quantia de seu investimento, não pode ser apenas ponto de visitação de escolas e fotografias turísticas. É como se diz na linguagem popular: “Quem pariu Mateus que cuide!”.