Não queria mais falar sobre isso, mas não tem como deixar de esclarecer o que a maioria da população não sabe e nem tão pouco se interessa saber. Já escrevi livro sobre o assunto, pesquisei, gastei com documentos e jornais da época, viajei em busca de informações concretas, escutei atores remanescentes, aturei muitos equívocos, dei palestras, participei de debates em rádios e televisões, interagi com historiadores e conhecedores da causa, escutei os dois lados sem denegrir nem tão pouco julgar o certo ou o errado disso ou daquilo. Na minha pesquisa não tive em momento algum a intenção de denegrir imagens ou estimular discórdia. Muito pelo contrário! Tudo que escrevi, está lá, devidamente documentado para quem quiser tirar as suas próprias conclusões. A verdade é que já se passaram tantos anos que os próprios historiadores, mesmo os da nova geração, preferem se acomodar ou amordaçar a própria consciência sem nenhuma responsabilidade com os motivos que culminaram na revolução de 30 e a conseqüente mudança do nome da Capital e da bandeira do nosso Estado. Até aí, tudo bem! Mas não posso admitir que o Sr. José Octávio de Arruda Melo, historiador das “antigas” e que tem vários livros publicados sobre o assunto, venha querer dizer em artigo publicado na revista ”A Semana”, (edição n.614 de 22 a 29 de Julho) que o meu livro seja “falso”. Isso não! Dizer que sou ligado aos perrepistas é outra justificativa inverídica. O que o Sr. José Octávio não sabe é que a minha família por parte de pai foi defensora da “Aliança Liberal” enquanto a família da minha mãe ficou dividida entre “Liberais e Perrepistas”. Nesse caso, fico extremamente à vontade para falar no assunto. Além disso, tudo que está escrito em meu livro, já foi citado em outros livros ou em artigos de jornais publicados pelos próprios protagonistas da época. É verdade que muitos destes livros foram queimados ou confiscados pela “divina providência política” ou por aqueles que foram contra a democracia. Mas está lá! É só procurar ter acesso ao que restou e ler!
Quando estive vereador puxei o debate sobre o tema. Muita gente a princípio criticou e houve até ameaças grotescas e opiniões infundadas de que eu estava colocando um projeto na Câmara Municipal querendo mudar o nome da cidade. Isso nunca existiu, nunca aconteceu! É Tudo mentira! Até porque não é prerrogativa da Câmara a mudança do nome da Capital e sim da Assembléia Legislativa. O que eu falei, e torno a falar, é que está previsto na Constituição Estadual de 1988 um plebiscito para consultar a população se ela quer ou não que mude o nome da Capital e conseqüentemente a bandeira do Estado. Isso é fato! Mais cedo ou mais tarde haverá de acontecer essa consulta popular e é por isso que acho que a história deve ser conhecida, tanto na versão contada pelos vitoriosos como na contada pelos perdedores, para que possamos pelo menos ter a liberdade de optar se é certa ou não essa mudança.
O que sempre me incomodou nisso tudo, é o descaso em relação ao assunto pelos historiadores tendenciosos que só se preocupam em permanecer insistindo na teoria mentirosa e arcaica da história “oficial” e no endeusamento de João Pessoa. É fácil compreender. Muitos deles até hoje sobrevivem desse fato e admitir o contraditório seria uma espécie de suicídio de sua própria história.
Nunca tive nada contra o cidadão João Pessoa. É isso que muita gente não entende, sejam familiares ou pessoas ligadas aos liberais da época. Muito pelo contrário! Como gestor, João Pessoa poderia ter se revelado como um grande administrador pela vocação natural de engenheiro que tinha e feito uma excelente gestão. Acontece que o seu governo de apenas 1 ano e 9 meses foi marcado por conflitos e mergulhado numa guerra civil causada pelo seu próprio temperamento. Se não tivesse sido assassinado por João Dantas, jamais entraria para a História. A morte de João Pessoa, no entanto, foi usada pela Aliança Liberal como a bandeira principal da revolução. Usaram João Pessoa literalmente, embalsamando seu corpo e passeando de capital em capital, culpando o governo federal pela sua morte e evocando ao mesmo tempo a revolução. E logo ele que detestava revolução e que dizia constantemente “preferir mil vezes a vitória de Júlio Prestes a melhor das revoluções”. Deve ter se estremecido dentro do caixão quando Assis Chateaubriand exibia o seu cadáver como um troféu em fervorosos discursos da Aliança Liberal. E que revolução? Se analisarmos minuciosamente os fatos veremos que nunca houve essa tal revolução. Revolução é quando efetivamente se muda a estrutura econômica e social de um País. E o que mudou em nosso país? A implantação do voto feminino e as Leis trabalhistas? Ora, isso já era uma reinvidicação da sociedade que mais cedo ou mais tarde iria acontecer. A revolução de 30 não foi nada mais do que a destituição de Washington Luis e a subida ao poder de Getúlio Vargas, que, diga-se de passagem, implantou o regime ditatorial no Brasil. Nada mais do que um golpe de Estado e o começo da ditadura.
Assim como a história de João Pessoa, o Brasil está cheio de controvérsias. Não sou eu agora que vai mudar isso. No entanto não posso deixar de dar a minha opinião sobre o assunto. Da mesma forma que acho um desrespeito se colocar uma feira de caprinos em meio às comemorações pela morte de João Pessoa, acho também que foi um desrespeito particularizar a nossa história em um momento que se misturou comoção com imposição, trazendo prejuízos para a nossa identidade e auto-estima. Quase ninguém sabe quem foi João Pessoa. Pergunte! Quase ninguém sabe o significado da nossa bandeira. Pergunte! Quase ninguém sabe o significado do NEGO. Pergunte!Faça a sua própria pesquisa e tire as suas conclusões. Se hoje praticamente ninguém conhece a nossa história, imagine daqui a 100, 200 ou 300 anos. Além disso, uma história de sangue e de luto jamais deveria ser motivo de orgulho. É o que penso!