Um professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) causou polêmica após fazer uma postagem machista nas redes sociais na qual diz que mulheres ficam ”latindo e reclamando”. O caso será investigado pela comissão de ética da universidade.
O professor Francisco das Chagas Fernandes Guerra escreveu um texto insinuando que só homens fazem trabalhos mais pesados, perigosos ou insalubres e propondo para as mulheres que reclamam fazer uma troca. Com palavras de baixo calão, ele disse que ficaria cuidando das crianças e fazendo a comida se a mulher sustentasse a casa.
A reitoria da UFCG divulgou uma nota em que afirma que ”o respeito às diferenças não dá lugar a nenhuma forma de manifestação racista, sexista ou alguma forma outra de apontamento preconceituoso contra qualquer coletivo”. De acordo com o texto, uma comissão de sindicância foi formada para apurar o caso.
A Assembleia Legislativa da Paraíba, através da Comissão de Direitos da Mulher e da Comissão Parlamentar de Inquérito do Feminicídio – CPI do Feminicídio, também divulgou nota de repúdio pelas declarações do professor.
Leia as notas de repúdio na íntegra:
Nota-Reitoria
A Universidade Federal de Campina Grande é plural em todos os sentidos e, por isso mesmo, convive com as mais variadas posturas políticas, ideológicas, culturais e religiosas, esperando de toda a sua comunidade acadêmica uma harmoniosa convivência democrática em que as diferenças são respeitadas.
O respeito às diferenças não dá lugar a nenhuma forma de manifestação racista, sexista ou alguma forma outra de apontamento preconceituoso contra qualquer coletivo.
Desta forma, a Reitoria da Universidade Federal de Campina Grande vem a público, manifestar o seu repúdio a qualquer expressão de preconceito e de ataque aos inegociáveis princípios dos direitos humanos, notadamente àquelas recentes manifestações, registradas em rede social, por docente da Instituição, que se mostrou desrespeitoso na convivência com as diferenças.
A Reitoria, zelando os princípios e valores que embasam a Universidade Federal de Campina Grande, não apenas repudia o ato desrespeitoso como também manifesta solidariedade às pessoas e aos coletivos que foram desrespeitados pelas mencionadas manifestações.
E por entender que, mesmo no âmbito da vida privada, a liberdade de expressão não pode ferir a dignidade alheia, e considerando a legislação a que está submetido qualquer servidor público, uma comissão de sindicância foi tempestivamente constituída, para apurar o caso, que será matéria de análise também pela Comissão de Ética da Universidade Federal de Campina Grande.
Nota ALPB
A Assembleia Legislativa da Paraíba, através da Comissão de Direitos da Mulher e da Comissão Parlamentar de Inquérito do Feminicídio – CPI do Feminicídio, vem a público repudiar o comentário misógino publicizado nas redes sociais pelo professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Francisco das Chagas Fernandes Guerra.
A luta pela emancipação da mulher é, hoje, objeto de discussão, estudos e ações em diversos espaços, inclusive nas universidades públicas, visando a mudança social e eliminação de todas as formas de opressão. Todavia, a manifestação do professor é reveladora ao destacar a ignorância sobre a questão de gênero. É mister destacar que este apedeutismo, associado a uma cultura patriarcal, reproduz a misoginia em todos os setores da sociedade, independente do grau de escolaridade, renda ou idade.
O comentário repudiado revela, além do obscurantismo histórico e político forjado pelo patriarcado, a objetificação da mulher e a violência preponderante nas mentes dos que ainda não conseguiram se emancipar, nem minimamente, do machismo. Ademais, desconsidera o trabalho como um fazer coletivo, na atividade doméstica e não doméstica, remunerada e não remunerada.
Com a luta feminista, a divisão social do trabalho vem passando por transformações significativas. Hoje estamos presentes nas mais diversas áreas, ocupando cargos de chefia, de liderança política, entre outros, seja a labuta intelectual ou braçal.
Nós, como representantes no Legislativo Estadual da batalha pela eliminação de qualquer forma de discriminação contra a mulher, expressamos nossa total indignação e repressão à esta publicação. As palavras impertinentes, misóginas e vergonhosas proferidas pelo professor são de profunda desconsideração à dignidade das mulheres, ecoando um discurso que permite, sanciona e incentiva a violência doméstica, o feminicídio e todas as formas de abuso, psicológico ou físico, que insistem em diminuir a nossa existência e a nossa moral.
Cida Ramos
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Feminicídio
Camila Toscano
Presidente da Comissão de Direitos da Mulher