A primeira-dama Michelle Bolsonaro entrou na campanha das eleições municipais de 2020 fazendo campanha para candidatos em suas redes sociais. No Instagram, Michelle apresenta candidatos a vereador, sendo um paraibano: o campinense Patrick Dorneles (PSD).
O apoio se resume à reprodução do material de campanha de cada um em publicações distintas nos destaques de seu perfil na rede social.
Ao clicar em “Vereador SP”, “Ver. Paraíba” ou “Vereador RJ” na página de Michelle, aparecem imagens de cada um com o respectivo número na urna e o link para a página do candidato. A primeira-dama não faz qualquer comentário.
Ativista em defesa de pessoas com doenças raras, Patrick Dorneles aparece na conta da primeira-dama em uma foto com Bolsonaro, quando o presidente esteve na cidade, no início de outubro. A imagem dos dois juntos traz o número do candidato na eleição. “Meu querido @patrickdornelespb, que Deus te abençoe grandemente”, escreveu Michelle.
Outros apoios
Na mesma rede social, Michelle declara apoio a Diego Hipolyto (PSB), em São Paulo e Anderson Bourner (Republicanos), no Rio de Janeiro, onde o enteado Carlos Bolsonaro (Republicanos) disputa uma cadeira de reeleição na Câmara Municipal.
O site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não registra nenhuma doação de Michelle a candidatos. O presidente Bolsonaro chegou a fazer uma doação de R$ 10 mil em dinheiro vivo ao filho Carlos.
Após a Folha revelar que a prática contrariava resolução do TSE (pela qual contribuições em dinheiro acima de R$ 1.064,10 só podem ser feitas mediante transferência bancária ou cheque cruzado e nominal), Carlos afirmou, em rede social, que o depósito foi um “equívoco” e que o recurso, de origem lícita, foi devolvido e retransferido de acordo com a legislação.
“Esclareço que houve um equívoco e que tratamos de corrigí-lo imediatamente, respeitando, como sempre, as regras estabelecidas”, escreveu o vereador.
Bourner também aparece em suas redes com o presidente e agradece a publicação feita pela primeira-dama. “Obrigado pelo apoio à minha candidatura no Rio de Janeiro, @michellebolsonaro. Pode ter certeza que irei honrar seu apoio fazendo o meu melhor na Câmara dos Vereadores. Estamos juntos nesta luta pelo nosso Brasil”, escreveu o candidato.
A Folha procurou a Secretaria de Comunicação para saber por que Michelle apoia estes candidatos, se isso foi combinado com o presidente e se pretende fazer alguma doação de recursos. A Secom também foi questionada se Bourner é o único candidato apoiado por ela na capital fluminense, já que o filho do presidente também disputa uma cadeira na Câmara de Vereadores local. O governo, porém, não respondeu.
Os filhos de Bolsonaro que estão na política também têm promovido candidatos em suas redes sociais.
Em seu perfil no Instagram, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) já fez live com os candidatos a vereador Nikolas Ferreira (PRTB), de Belo Horizonte, Roberta Lopes (PRTB), de Juiz de Fora (MG), Cristiano Caporezzo (Patriota), de Uberlândia (MG), Alexandre Aleluia (DEM), de Salvador, Inspetor Alberto (PROS), de Fortaleza, e Dra. Lenice (PRTB), de Natal.
Ele também já declarou apoio a Paulo Chuchu (PRTB), de São Bernardo do Campo (SP), com quem já fez até eventos de rua, e a Sonaira Fernandes (Republicanos), de São Paulo. Outra que ganhou apoio do deputado é a candidata a prefeita de Criciúma (SC) Julia Zanatta (PL).
Já o apoio do senador Flávio Bolsonaro é em família. Há postagem pedindo voto para o irmão Carlos e para a mãe, Rogéria Bolsonaro (Republicanos), ambos disputando vaga na Câmara do Rio.
O presidente já manifestou, em conversas reservadas, receio de associar a sua imagem a candidatos que desconhece. O temor é que, no futuro, eles possam se envolver em escândalos de corrupção, desgastando a imagem de sua gestão.
Antes do início da campanha, Bolsonaro chegou a dizer que manteria neutralidade no primeiro turno e passou a mesma orientação para sua equipe. Ele, no entanto, mudou de posição em cidades nas quais considera que há chances reais de seus aliados serem eleitos.
No pronunciamento semanal que faz pelas redes sociais, já disse mais de uma vez que, duas semanas antes das eleições, divulgará quem são seus candidatos.
Porém, nessas transmissões, ele já indicou ter candidatos em cidades como São Paulo, Santos (SP), Manaus, Belo Horizonte e Fortaleza.
Na capital paulista, ele tem posado ao lado do deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), que lidera a última pesquisa Datafolha sobre a corrida à prefeitura.
Na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro também mencionou o nome de um candidato, Coronel Menezes (Patriota), a simpatizantes de Manaus. No Palácio do Planalto, recebeu o desembargador Ivan Sartori (PSD), candidato em Santos (SP).
Sem citar nomes, Bolsonaro também deu informações suficientes para identificar Bruno Engler (PRTB), na capital mineira, e Capitão Wagner (PROS), na cearense.
Fez o mesmo com a Coronel Fernanda (Patriota), candidata ao Senado na eleição suplementar que acontecerá em Mato Grosso.
Ele já disse ter gravado vídeo para duas candidatas a vereadora de São Paulo. Uma delas é Sonaira Fernandes, que, segundo o próprio Bolsonaro diz na gravação, trabalhou com seu filho Eduardo.
“É uma pessoa que posso garantir, levando-se em conta tua vida pregressa, tem tudo para ser uma vereadora que possa nos orgulhar a todos. Eu não estou me envolvendo em política, mas estou abrindo algumas exceções”, diz Bolsonaro no vídeo.
Já está nas redes sociais também vídeo que gravou para Wal do Açaí, sua ex-assessora-fantasma, que concorre a vereadora em Angra dos Reis (RJ) como Wal Bolsonaro (Republicanos). Nas redes sociais, ela também aparece em fotos ou vídeos com Eduardo e Carlos Bolsonaro.
“Ela vai ser uma representante da região, com a ligação que ela tem comigo há muito tempo que pode ajudar a desenvolver o município”, afirma o presidente no vídeo.
Além disso, como a Folha mostrou na semana passada, candidatos a prefeito e vereador têm burlado a segurança presidencial para fazer fotos e gravar vídeos com Bolsonaro no cercadinho armado para apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada.
Ao anunciar alguns de seus candidatos, o objetivo de Bolsonaro, de acordo com auxiliares, é garantir que sua campanha à reeleição em 2022 conte com apoios regionais de peso.
A ofensiva também busca não permitir a eleição de candidaturas municipais alinhadas a eventuais nomes do campo da direita que possam ameaçar sua reeleição, como João Doria (PSDB), Sergio Moro (sem partido) e Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Aliados do presidente apontam que ele já explicitou que não tomará partido caso os dois favoritos sejam filiados a legendas que apoiam sua gestão no Congresso. Ele quer evitar uma crise em sua base aliada que possa comprometer votações de interesse do governo.