Aline Lins

Vigora a ‘lei do silêncio’ sobre morte do ‘Picolé de Manga’

Depois de ter sido arrancado do Centro e levado para a orla de João Pessoa em 2015, pelo segundo ano consecutivo o Bloco 'Picolé de Manga' não cai na folia em João Pessoa

Vigora a 'lei do silêncio' sobre morte do 'Picolé de Manga'

Bloco desfilou pela última vez em 2015 na Epitácio Pessoa — Foto:Divulgação

“Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. Mataram o Bloco pré-carnavalesco ‘Picolé de Manga’, um dos maiores que desfilaram no Projeto Folia de Rua, sempre na semana de prévias que antecede o Carnaval. Depois de ter sido arrancado do Centro e levado para a Avenida Epitácio Pessoa em 2015, pelo segundo ano consecutivo – em 2016 e 2017 – o Bloco ‘Picolé de Manga’ não cai na folia em João Pessoa. Na comunidade berço da agremiação, Cordão Encarnado, a choradeira é grande: “acabou-se, acabou-se”! 

Até a sede da ONG, na Rua Dom Carlos Gouveia Coelho, não existe mais no Cordão Encarnado, agora é uma residência onde mora uma família. 

O responsável pelo ‘Picolé’, Lucélio Cartaxo, ainda não disse uma palavra sobre o assunto, e nem a Associação Folia de Rua quer se meter, embora devesse porque a agremiação ‘Picolé de Manga’ integra a associação. 

Vigora a lei do silêncio no meio carnavalesco. Todo mundo sabe que não existe mais o ‘Picolé de Manga’ mas ninguém diz.   

Até parece que o ‘Picolé de Manga’ tinha um dono. Ou dois. Mas o patrimônio da coletividade não tem um dono: é de todo mundo, é do povo, dos moradores de Cordão Encarnado, da Saturnino de Brito, do bairro Ilha do Bispo e demais localidades daquele entorno, a maioria pessoas carentes, e dos foliões que vinham do resto da cidade. Todos os anos antes do desfile, o público, no Cordão Encarnado, participava de uma degustação do picolé de manga gigante, com 2,70 metros e 300kg em 2015. Era sucesso. 

Em 2016, o bloco ia integrar a programação do Folia de Rua, até que de repente o comando da agremiação cancelou a participação, alegando – pasmem – a crise nacional. Além do ‘Picolé de Manga’, o bloco infantil ‘Dindin de Manga’ também não desfilou em 2016.

Em nota, ainda em 2016, os organizadores comunicaram que a decisão foi tomada após uma série de reuniões e que o Picolé de Manga não deixaria de existir porque faz parte das tradições de Carnaval de João Pessoa e integra o calendário festivo da cidade há 23 anos. Este ano, o Picolé faria 24 anos, se não tivesse morrido sem direito sequer a um enterro decente.      

A Organização Não-Governamental Picolé de Manga foi fundada em dezembro de 2005 pelos organizadores do bloco carnavalesco Picolé de Manga, Luciano e Lucélio Cartaxo. A agremiação é integrante da Associação Folia de Rua e em 2010 completou 17 anos de história no carnaval paraibano, concentrando-se tradicionalmente na comunidade Cordão Encarnado, centro de João Pessoa. 

Faltou coerência, para os que pregam a revitalização do Centro Histórico da Capital, e os ‘cordão-encarnadenses’ merecem pelo menos uma explicação.   

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